Nos reunimos
em torno dos vestígios
para viver
uma vez mais


Sexta feira, 25 de Junho de 2021. Residência Figueira, Fazenda São João (São José do Vale do Rio Preto)

A. Nos reunimos em torno dos vestígios para viver uma vez mais: proposição e instâncias

  1. Construa uma casa (um lugar);
  2. Grave-a em mono;
  3. Reproduza as gravações nos locais e horários em que foram realizadas;
  4. Um mapa e um cronograma (uma história?) em intensidade tal que se confundam com o todo;

8:00 - Caramelo

Não consegui acordar para essa reprodução. Na medida em que já havíamos feito uma sessão coletiva de escuta, isso não é um problema. Ademais, esse deslize realçou o óbvio: as outras gravações tem um caráter mais pessoal e íntimo, são recortes de um cotidiano na casa e registram eventos banais (por vezes acompanhados de alguma intervenção incomum). 

12:30 - Rede, conversa

Thais e Cláudia papeiam. Eu escutava ambas as conversas, aquela que ocorria então e o registro da que se passou havia dias. É curioso como as pessoas se expressam sem maiores dificuldades quando não há um gravador por perto. Mas sempre me pergunto, e a memória do interlocutor? Não há questões com o que é registrado pelo outro? 

13:00 - Cozinha

“O pássaro está dentro ou fora? Confunde...” Isso é o que diz Claudia enquanto escutamos. De novo o tema dos interiores e dos exteriores, algo que me persegue de maneiras distintas. Devo confiar no processo. 

13:30 - Aves em loop

Tocado junto com Loop 4, um loop da tarde. Engraçado, pois ele era relativamente simples, um som sustentado de altura definida, cujo início e final eram marcados por curtos glissandos. Por que algo assim teria o caráter ‘da tarde’? Talvez seja, mais uma vez, o hábito. Os costumes e rotinas que vão se estabelecendo também de forma arbitrária. 

14:40 - Plantio em espiral

É mesmo interessante imaginar como as rotinas aparentemente se estabelecem. Claudia estava em análise, no registro e ‘na vida’; Thais estava construindo uma churrasqueira, e, no registro, plantava em espiral. Eu estava, mais uma vez, apenas escutando ambas. Um vazio que é uma forma de se estar presente, espero.

Aliás, a meu pedido Thais começa a fotografar o evento. Eu penso em duas coisas: ao ouvir o canto de um pássaro, lembro de meu pai e digo "então é por isso que há quem deseje criar aves. Essas pessoas querem ter isso” (refiro-me ao canto, mais do que ao ‘pássaro propriamente’. Meu pai gravava loops de cantos de pássaros em fitas infinitas, mas esse apenas parece ser um outro assunto).

Também penso que Thais é dessas pessoas a quem o futuro deveria pertencer.

17:30 - Conversa

Veró nos visitou, conversas em paralelo, mais uma vez.

18:50 - Fogueira

Estavam quase todos os nossos vestígios ali: Antonio, Lidia, Gabriel, Veró, Claudia, Thais, Scooby, Max, Alexandre sem meu celular. Novas coincidências: Pilar rouba, no registro e na vida; Cláudia conversa sobre a xepa da vacina, uma vez mais. Começo a suspeitar que vivemos um estranho ritual, de nos reunirmos para ouvir registros daquilo que, concomitantemente, fazemos. A indistinção entre propensão e ato, talvez seja essa uma definição de ‘cultura’.  

19:40 - Aula (endo/exo)

A maior das coincidências, creio. A ponto de marcar a ideia endo/exo como, de fato, um projeto a ser perseguido. O término da aula sobre o dentro e o fora, dualidades [transcrever um trecho]. Devo confiar no processo.

O Loop 6, nem da tarde e nem da noite. Não um loop que se expressa no tempo, mas sim no espaço (uma imagem estranha: o que seria, afinal, um loop que se expressa no espaço? A indistinção entre propensão e ato, talvez seja essa uma definição de 'ressonância').