Orelhas de Zinco
- with Dorothé Depeauw


Instalação sonora ativada por movimentos, desenvolvida por Dorothé Depeauw e Paulo Dantas. Nela, placas de zinco estão interligadas através de uma teia capaz de transmitir a todos os pontos do sistema as vibrações provocadas pelos sutis movimentos de um corpo. Essas vibrações são interceptadas por microfones e convertidas em sons que são, por sua vez, reinjetados no sistema.

Sobre o som de Orelhas de Zinco


A partir do momento em que Dorothé me convidou para cuidar da parte sonora de Orelhas de Zinco, não pude evitar a série de associações que a imagem de placas flutuando em uma sala atravessada por fios desencadeou. Seriam esses fios, na verdade, cabos de transmissão? O que esses cabos transmitiriam, então? O que poderíamos fazer para otimizar a comunicação entre as placas, os fios e as estruturas nas quais prendemos essa amarração?

De que formas poderíamos transformar em sons as vibrações que se propagam por essa teia? Ou ainda, a partir da analogia que equipara fios a cabos de transmissão, faria sentido equiparar as placas de zinco a antenas? Seriam essas capazes de escutar quem se movimenta na rede?

Esse conjunto de imagens vem sendo amplificado pelo diálogo com Dorothé, e chegamos a uma teia de conceitos ainda em expansão na direção de novos territórios, de forma análoga à teia que de fato armamos para as nossas apresentações. Essa armação concreta da teia depende em muito das situações específicas nas quais trabalhamos, devendo ser configurada sobretudo em função dos diferentes espaços onde a apresentação se dá. Dadas as relações intrínsecas entre a instalação e as propriedades do espaço de montagem, entendemos que a situação ideal de trabalho envolve algum tempo de imersão nesse espaço, preferencialmente em residência que tenha por duração algo entre duas e três semanas. Mas apesar do caráter aberto de Orelhas de Zinco, há elementos técnicos recorrentes nas diferentes versões realizadas até agora, relacionados ao desenho de som. Desses, eu destacaria a montagem e uso de diversos microfones de contato para a captação das vibrações das placas e dos fios; o controle da retroalimentação dos sons na mesa de mixagem, como parte importante da performance; a distribuição no espaço de um mínimo de duas caixas de som, para garantir certa gama de controle e variedade do resultado sonoro; a atenção dedicada aos sons que resultam de certas escolhas ligadas à armação da teia, ditando, por exemplo, o quanto se deve esticar um determinado fio ou qual seria a sua extensão e calibre; e uma especial atenção à localização do corpo de Dorothé no interior da instalação, algo que tem relação direta com algumas decisões que tomo durante a performance.